Os alunos que fazem exercício físico têm melhores resultados escolares,
conclui uma investigação junto de três mil alunos realizada, ao longo de
cinco anos, por uma equipa de investigadores da Faculdade de
Motricidade Humana, da Universidade Técnica de Lisboa (FMH/UTL).
In Jornal Público
Por Bárbara Wong, Catarina Gomes
Os jovens com aptidão cardio-respiratória saudável tiveram um maior
somatório das classificações a Português, Matemática, Ciências e Inglês.
Luís
Sardinha, director do Laboratório Exercício e Saúde, da FMH, afirma que
existe "a tendência para sobrevalorizar a parte biológica" dos
benefícios do exercício físico. E este estudo também os comprova,
evidenciando, por exemplo, que "os alunos insuficientemente activos", ou
seja, que não cumprem as recomendações de actividade física diária
(pelo menos 60 minutos por dia de actividade física moderada e
vigorosa), têm maior probabilidade de serem pré-obesos ou obesos, que os
miúdos cuja aptidão cardio-respiratória é saudável, decorrente do
exercício, têm mais massa óssea, e os que não a têm tendem a ter uma
saúde vascular pior.
Mas, para o coordenador do estudo, o
resultado mais inovador desta investigação - feita em parceria com o
Ministério da Educação e Ciência (MEC) e a autarquia de Oeiras - é o
demonstrar que o aumento da actividade física tem reflexos "na parte
psicológica, uma dimensão que tem sido menos estudada", nota. "Face à
dimensão da amostra", o investigador admite que os resultados possam ser
extrapolados para a população escolar.
O chamado Programa
Pessoa, co-financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT),
estudou durante cinco anos (começou em 2007) três mil alunos de 13
escolas do concelho de Oeiras, usando desde acelerómetros, instrumentos
que os alunos usavam na cintura para medir os seus tempos sedentários e
activos; ecografias para medir a espessura das camadas da artéria
carótida; cronómetros para medir a performance cardio-respiratória
dentro de um determinado circuito com cadência progressiva.
O que
se concluiu é que os alunos do 3.º ciclo com aptidão
cardio-respiratória saudável têm melhores classificações a Matemática e a
Língua Portuguesa e que, no geral, os alunos com aptidão
cardio-respiratória saudável têm um maior somatório das classificações a
Português, Matemática, Ciências e Inglês. Ou seja, o exercício físico
tem efeito positivo no aproveitamento escolar, uma conclusão que estava
sobretudo estudada em idades mais novas, nota.
"Esta linha de
investigação vem demonstrar a importância do jogo e actividade física
informal e organizada para todas as crianças em contexto escolar",
defende Carlos Neto, presidente da FMH/UTL.
Mais auto-estima
A
explicação para este efeito foi já estudada noutras investigações: "o
exercício promove a formação de novos neurónios e uma maior interacção
entre neurónios, que, por sua vez, promovem maior sensibilidade e
desenvolvimento cognitivo".
Mas não só. É sabido que a
adolescência é uma idade turbulenta, tendencialmente acompanhada pela
diminuição de indicadores ligados à qualidade de vida, refere o
investigador. O que este estudo também permitiu concluir é que,
aumentando a actividade física, cerca de uma média de duas horas por
semana, melhoraram indicadores como "a auto-estima, afectos positivos,
competência, autonomia, relacionamentos positivos e boas motivações".
Pelo contrário, constata-se que os rapazes e as raparigas que fizeram
menos exercício desceram nestes indicadores.
Além da produção de
resultados estatísticos, o Programa Pessoa esteve no terreno para tentar
mudar comportamentos em termos de exercício físico e nutrição, dando
acções de formação a professores das várias disciplinas, e produzindo
quatro manuais. Nos alunos que revelam maior apetência para a prática
desportiva, "um dos objectivos do programa foi criar uma porta de
entrada à maior participação desportiva".
Luís Sardinha afirma que "nos jovens há uma luta muito grande entre
comportamentos sedentários, associados às tecnologias, e exercício
físico" e, defende Sardinha, nesta faixa etária, "temos que mudar o
discurso". "Nos jovens, a mensagem assente nos benefícios que o
exercício traz à saúde não é eficaz", diz, "estão numa idade em que
pensam que são super-homens e não têm capacidade para se colocarem na
linha de vida aos 40 anos". O investigador sabe que apelar a estes
jovens não tem o efeito desejado.O investigador sublinha que o que é
importante é que os jovens "identifiquem o retorno que o exercício lhes
traz com situações do dia-a-dia: têm de perceber que [se fizerem
exercício] dormem melhor, interagem com mais confiança com o namorado ou
a namorada, podem ter melhores notas, relacionam-se mais positivamente
com os colegas e os pais".
Se o exercício físico se revela tão
importante para os alunos, como é que Carlos Neto comenta a redução da
carga horária da Educação Física e a nota da disciplina no final do
secundário deixar de contar para todos os alunos? "Um corpo sedentário a
par de um currículo escolar apenas centrado nas aprendizagens
socialmente úteis (corpos sentados) será um caminho problemático no
aumento do "analfabetismo e iliteracia motora" dos cidadãos", responde,
acrescentando que "as posições assumidas pelo MEC [são] paradoxais e
incompreensíveis".
O ideal seria que, ao terminarem o 12.º ano,
estes alunos fossem "consumidores educados do exercício físico", isto
porque "está identificado que este é o período de maior abandono da
actividade física, por ser uma altura que os jovens adultos adoptam
novas rotinas, quer arranjando emprego ou indo para a universidade. Este
é um período crítico para o reconhecimento do valor do exercício
físico", conclui Sardinha.
O Ministério da Educação e Ciência
rejeita que exista uma redução efectiva das horas da disciplina,
lembrando que cabe às escolas tomar essa decisão. Quanto ao secundário, a
nota contará apenas para os estudantes que queiram. Portanto, "não
existe assim qualquer desvalorização da disciplina", informa.
Dormir nove horas
Os
alunos que dormem menos de oito horas por noite têm maior risco de
serem pré-obesos ou obesos, conclui o estudo, confirmando assim uma
relação já identificada em estudos anteriores. O tempo ideal de sono nas
idades estudadas (dos 13 aos 15 anos) é de mais de nove horas, diz o
coordenador do Programa Pessoa, Luís Sardinha.
"Os miúdos que
dormem menos têm um Índice de Massa Corporal superior. Dormir oito ou
mais horas por noite reflecte-se também num maior aproveitamento
académico", aponta. Os alunos que dormiam um mínimo de oito horas por
noite tiveram melhores classificações a Matemática e Língua Portuguesa,
revelam os resultados.
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