segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Crianças precisam de ser felizes e não de serem as melhores!

A infância é um período de aprendizagem, mas também de alegria e diversão. Os filhos devem aprender de maneira divertida, devem errar, perder o tempo, deixar voar a sua imaginação e passar o seu tempo com outras crianças.

Texto da psicóloga Jennifer Delgado 




Vivemos numa sociedade altamente competitiva em que parece que nada é suficiente. Temos a sensação de que se não colocarmos bateria nos filhos eles terminarão atrás, sendo barrados pelos melhores do que ele.

Por isso, não é estranho que nas últimas décadas muitos pais assumiram um modelo de educação sustentado na hiper-paternidade (pais helicópteros que não se cansam de voar sobre os filhos, incessantemente). Trata-se de pais que desejam que os filhos estejam preparados para a vida, mas não é no sentido da sorte do destino de cada um. É mais restrito: querem que os filhos tenham o conhecimento e as habilidades necessárias para se realizar numa boa profissão, conquistar um bom trabalho e ganhar o suficiente.

Estes pais traçam uma meta: querem que os filhos sejam os melhores. Para conseguir, não duvidam em apontar-lhes diversas atividades extra-escolares, preparar o caminho até aos limites inacreditáveis e, por hipótese, conquistar o êxito a qualquer peço. E o pior de tudo é que crêem que o fazem “pelo seu bem”.

O principal problema deste modelo de educação dos filhos é a pressão desnecessária sobre os pequenos, uma pressão que termina tirando-lhes sua infância e esta atitude cria adultos emocionalmente fracos.
Os perigos de empurrar os filhos para o êxito
A maioria dos filhos são obedientes e podem alcançar os resultados que os pais lhes pedem. Se as deixaram agir sozinhos serão capazes de conduzir o seu pensamento autónomo e as habilidades naturais podem conduzi-los ao êxito verdadeiro. Se não lhes damos  espaço e liberdade no seu próprio caminho quando lhes enchemos de expectativas, o filho não poderá tomar as suas próprias decisões, experimentar e desenvolver a sua personalidade.
Pretender que os filhos sejam sempre melhores traz grandes perigos
Gera uma pressão desnecessária que lhes retira a infância. A infância é um período de aprendizagem, mas também de alegria e diversão. Os filhos devem aprender de maneira divertida, devem errar, perder o tempo, deixar voar a sua imaginação e passar seu tempo com outras crianças. Esperar que as crianças sejam “os melhores” em determinada área – colocando sobre eles expectativas muito elevadas – somente fará que suas frágeis rótulas se dobrem ante o peso de uma pressão que não necessitam. Esta forma de educar termina arrebatando-lhes a sua infância.
Provoca a perda da motivação essencial e o prazer
Quando os pais se concentram mais nos resultados que no esforço, a criança perderá a motivação essencial porque compreenderá que conta mais o resultado que o caminho que está seguindo. Portanto, aumentam as possibilidades de que cometa fraudes na escola. Por exemplo, verá que não é tão importante que aprenda, se a nota for boa.  Da mesma maneira, vai concentrar-se nos resultados, e vai perder o interesse pelo caminho, e deixa de aproveitá-lo.
A semente do medo e do fracasso
O medo ao fracasso é uma das sensações mais limitadoras que podemos experimentar. E esta sensação está intimamente vinculada com a concepção que temos sobre o êxito. Portanto, empurrar as crianças desde cedo ao êxito desde pequeno só serve para plantar dentro delas a semente do medo ao fracasso. Como consequência, é provável que estes pequenos não se tornem adultos independentes e empreendedores, como querem os pais. Serão pessoas que preferem a mediocridade somente porque têm medo de fracassar.
A perda da auto-estima
Muitas das pessoas bem sucedidas, profissionalmente falando, não são seguras de si. De facto, muitas supermodelos, por exemplo, dizem que estão feias e gordas, quando na realidade são ícones de beleza. Isto acontece devido ao nível de perfeccionismo a que sempre foram submetidas.  Elas acreditam que nunca estarão em forma e que um pequeno erro na dieta será motivo para que as outras as vejam diferentes. As crianças que crescem com esta ideia convertem-se em adultos inseguros, com uma baixa auto-estima, e acreditam que não são suficientemente boas para serem amadas. Como resultado, vivem dependentes das opiniões dos outros.
O que realmente deve saber uma criança?
As crianças não necessitam de ser as melhores, somente necessitam ser felizes. Por isso, deve assegurar-se de que o seu filho perceba:
Que é amado de forma incondicional e em todos os momentos; sem importar os erros que comete.
Que está a salvo, que o protegerá, e o apoiará sempre que precisar.
Que pode fazer tolices, perder o tempo fantasiando e brincando com seus amigos.
Que pode fazer o que mais gosta e dedicar-se a essa paixão, sem importar do que se trata. Que pode passar o seu tempo livre pintando flores coloridas ou pintando gatos com seis patas, se é o que lhe dá alegria, em vez de praticar a fonética e o cálculo.
Que é uma pessoa especial e maravilhosa, igual a muitas outras pessoas no mundo.
Que merece respeito e que deve respeitar os direitos dos demais.
E o que deve fazer os pais?
Também é fundamental que os pais percebam:
– Que cada criança aprende no seu próprio ritmo, e não devem confundir o estímulo que desenvolve com a pressão que sufoca.

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