Que futuro para os alunos NEE depois da escola?
Por Alexandre Henriques
A escola atual é provavelmente o espaço onde os alunos ditos
“especiais” são mais acompanhados e estão mais integrados. Depois da
escola, os seus destinos são muitas vezes uma incógnita e infelizmente
uma sociedade que exige uma escola inclusiva, esquece frequentemente o
que é a inclusão, principalmente quando esta lhe bate à porta…
http://www.comregras.com/futuro-os-alunos-nee-da-escola/
Fica o artigo de Filinto Lima ao JN alusivo ao assunto.
http://www.comregras.com/futuro-os-alunos-nee-da-escola/
Fica o artigo de Filinto Lima ao JN alusivo ao assunto.
Indiferentes à diferença?
As
escolas fazem um trabalho notável no âmbito da Educação Especial (EE),
mérito dos professores respetivos, técnicos e assistentes operacionais
(vulgo funcionários) que se entregam na plenitude para dar a melhor
resposta a quem, como perfil, apresenta “limitações significativas de
caráter permanente” que “resultam em dificuldades continuadas ao nível
da comunicação, aprendizagem, mobilidade, autonomia, relacionamento
interpessoal e participação social”.
O número de alunos sinalizados com
necessidades educativas especiais (NEE) tem aumentado de uma forma,
porventura, descontrolada (todos os anos cresce na ordem dos milhares –
apenas este ano letivo contabilizou 4441 novas elegibilidades) – em
contraciclo com a diminuição do número global de discentes -, julgando
que algumas sinalizações (devidas a problemas de comportamento ou
dificuldades transitórias de aprendizagem) possam estar a ser (mal)
encaminhados para a EE.
Se assim for, estamos a desviar recursos
(humanos e logísticos) daqueles que verdadeiramente necessitam, e a não
acautelar os interesses de uma franja de alunos cuja intervenção não
passa pela EE, mas antes pela adoção de metodologias, estratégias,
recursos e abordagens terapêuticas mais apropriados…
As terapias destinadas aos alunos com NEE
desempenham um papel preponderante e o trabalho no terreno é realizado
com qualidade, em estreita parceria com os diversos intervenientes no
seu processo educativo e reabilitativo.
Porém, as pausas letivas, sobretudo as
tradicionais “férias grandes” deitam muito a perder, pois estes
discentes são considerados pela sociedade “especiais” só em tempo de
aulas…lamentável! Sendo um trabalho alicerçado na estruturação e na
consistência da intervenção, nas repetições e na persistência, como se
entende a ausência das terapias e outras valências, aquando da
interrupção das atividades letivas? Alguém beneficia com a paragem
destes alunos entre junho e outubro?
Os professores e terapeutas que com eles
trabalham dizem-nos que, para além de não progredirem, muitas destas
crianças e jovens revelam regressões, bem como episódios de
desestruturação emocional, atirando por água abaixo o trabalho efetuado
nas escolas, cujo valor é inestimável.
Talvez por isso, em Vila Nova de Gaia, a Câmara Municipal lançou o Projeto
Gai@prende+I (que “pretende adaptar os programas às crianças com NEE”),
após ter no terreno atividades para todas as crianças, quer no período
não letivo (7.30 h até às 9 h e no fim das aulas), quer nas pausas,
incluindo as férias de verão. É um exemplo muito feliz de sensibilidade e
preocupação com os alunos, mas também com os cidadãos a tempo inteiro, a
quem, mais que ninguém, a inoperância decorrente da paragem forçada é
prejudicial ao seu bem-estar e desenvolvimento físico, emocional e
intelectual.
Outro investimento a “fundo perdido” (e
quantas vezes esbanjado…), para além da situação acima relatada, ocorre
com os casos graves e severos, a quem é aplicada a medida currículo
específico individual, particularmente no que respeita aos alunos
frequentadores das unidades de multideficiência e as de ensino
estruturado para a perturbação do espetro do autismo. O dinheiro
aplicado pelo Governo através do Ministério de Educação é desperdiçado
quando estes jovens, cidadãos do mundo, atingem os 18 anos e… passam
para a tutela do Ministério da Casa – o primeiro dia do resto das suas
vidas! Ou seja, chegados à maioridade, são obrigados a deixar a escola,
onde obtiveram progressos visíveis, e vão para um lugar que, apesar de
normalizado no século passado, afigura-se criminoso no presente: a casa.
Os sucessivos governos têm desprezado a
realidade e a sociedade enfia a cabeça na areia, pouco preocupados com
estes jovens especiais e, também, com os seus pais, eternos encarregados
de educação, cuidadores que desesperam face à incerteza com que
equacionam o amanhã dos filhos, que lhes apresenta perspetivas
desoladoras e cruéis, pois a impossibilidade de frequentarem uma
instituição especializada é o drama imerecido.
Não existindo, por enquanto, o Ministério
da Casa (!), será pedir muito aos nossos governantes que cuidem do
futuro destas pessoas? Continuaremos a ser indiferentes à diferença?
Quem lucra com a existência e criação de barreiras à inclusão?